quinta-feira, 2 de março de 2017

Desconstruindo textão do feminismo esquerdista

Liberdade de mercado; escravidão da mulher

(Versão original publicada em https://causaoperaria.net/2017/03/02/liberdade-de-mercado-escravidao-da-mulher/ . Meus comentários estão em vermelho e entre parênteses)


Para os liberais, a liberdade de mercado se identifica com a liberdade em si. (Parabéns, até aqui o seu texto está correto!) O grande problema está na concepção de liberdade.
E a concepção de liberdade dos liberais é semelhante àquela que os animais desfrutam na selva. Liberdade para o leão ser predador e os antílopes serem as presas. (Não, não é assim que os liberais veem a coisa. A premissa básica é que todos devem ser livres para agir como desejarem, DESDE QUE isso não implique iniciar uma agressão aos demais indivíduos pacíficos, dotados dos mesmíssimos direitos)
A mulher já começa a competir com desvantagem em relação ao homem. Ela engravida e, historicamente, está presa ao lar e numa posição de submissão em relação ao homem. (E dane-se o livre-arbítrio, né? A mulher não pode nem escolher quando e se vai ter filhos, não pode negociar a divisão de tarefas com o marido, é apenas uma vítima indefesa e sem cérebro)
Assim, em primeiro lugar, os liberais procuram justificar a diferença salarial entre homens e mulheres com argumentos como: elas trabalham menos, “escolhem” profissões menos perigosas, mal remuneradas e por aí vai. (Sim, isso explica a maior parte da diferença salarial entre os sexos. É uma longa história, sugiro ler esse artigo do Leandro Narloch pra começar)
Nenhuma palavra sobre o fato de que elas têm uma dupla jornada, no trabalho e em casa e que são de fato as responsáveis por criar os filhos. Nenhuma palavra também sobre o fato de que enquanto uma mulher precisa abrir mão de ter filhos para avançar na carreira (não precisa, quase toda pessoa "avança na carreira" à medida que ganha experiência, acontece que o avanço de uma mulher que interrompe a carreira para ter filhos será mais lento, e não nada de absurdo nisso), o homem pode confortavelmente ter sua carreira, seus filhos e não ter que se preocupar com o trabalho doméstico. (Se esse for o acordo do casal, tudo bem, não acha?) E, obviamente, nada é dito também a respeito de que para manter as coisas desse modo, com a mulher escravizada em casa (snif, seu apelo à emoção quase me pegou de jeito agora..) para que o homem possa continuar dominando os cargos de chefia e comando, as mulheres são estimuladas desde pequenas a querer cuidar de crianças e da casa, e não a desenvolver o intelecto ou explorar o mundo. (concordo que os estímulos dados pelos pais a meninos e meninas tendem a ser diferentes, mas te garanto que isso não é uma conspiração dos pais para prejudicar as filhas! Por que essa mania de atribuir intenções demoníacas aos homens?)
Mas as desvantagens reais não contam para os liberais, que procuram explicar tudo pela necessidade do mercado e não das pessoas. (Deixa eu te contar uma coisa chocante.. esse tal "mercado" que você critica tanto é feito por PESSOAS!)
Por que não substituir a pena em relação ao empregador por uma proposta de que a humanidade pare de ter filhos ou de que o homem também possa engravidar? Porque não é realista. (Ufa, um pouco de bom senso!) O que significa que do ponto de vista liberal a mulher está condenada a ser cidadã de segunda classe para até o fim dos tempos.(Non sequitur. Pesquise o que é isso, vai te fazer bem)
Mas o pior é que a doutrina liberal, em especial a neoliberal, não para por aí. Não contentes em justificar a opressão da mulher, levam adiante uma política que, uma vez executada, só pode agravar a situação já bastante desfavorável da mulher na sociedade.
Como João Dória já está fazendo na cidade de São Paulo e como a direita procura fazer em todo o país, os liberais propõem a privatização de todos os serviços que hoje são públicos. Isso significa fim das creches, da escola pública, da saúde gratuita ("gratuita", baby, sempre com aspas!), da licença maternidade e de todos os benefícios que o Estado possa conceder; medicamentos gratuitos, vacinas (por que não?), merenda, e por aí vai. Se Dória já cortou o leite das crianças nas escolas municipais e chegou a suspender as vans que levavam as crianças à escola, ele é capaz de tudo. (Ah tá.. se um cara reduz o envio de leite e suspende algumas vans, ele deve ser capaz de tudo mesmo, até estuprar e matar velhinhas, a sangue frio e gargalhando)
E como fica a mulher trabalhadora, que representa a maioria das mulheres do país, sem nenhum auxílio do Estado? (Ela não precisa do estado pra trabalhar, sabia?) A sua situação simplesmente se tornará insustentável. Sem emprego, ou com um emprego mal remunerado, tendo que cuidar da casa e dos filhos sem nenhuma ajuda. E ai dela se abortar! Vai presa e pouco importa se deixou para trás outros três ou quatro filhos desamparados. (Bom, prisões por aborto são raríssimas no Brasil, mas eu concordo que não deveriam existir. E você esqueceu de falar que essa mulher nunca deveria ter tido três ou quatro filhos se não tinha condições de sustentá-los)
O aprofundamento da política neoliberal significa igualmente o aprofundamento da escravidão da mulher. (Snif, snif, que história triste!Obrigada a casar com um marido bosta que não lava uma louça, obrigada a ter quatro filhos e abortar o quinto, etc.)

A única verdadeira liberdade que os tais liberais defendem é a do capitalista para fazer o que bem entender para garantir seu lucro, mesmo que isso implique no sofrimento e escravidão da esmagadora maioria da população. (O capitalista ter lucro não implica nada disso. No livre-mercado genuíno, o lucro vem do valor que o empresário gera para os clientes, ou seja, do quanto ele melhora a vida das pessoas. Se não fosse assim, ninguém daria dinheiro a ele em troca do produto/serviço. Nesse processo, o empresário necessariamente contrata outras pessoas, que não são escravizadas, mas voluntárias, e que só aceitaram trabalhar naquelas condições porque era melhor que as alternativas disponíveis. Ou seja, TODO MUNDO sai ganhando: empresário, consumidor e funcionário)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Conselhos para as feministas que escrevem textão na internet


1 - Entenda o fato de que muitas pessoas têm certa “alergia” à palavra “feminismo”, mas não as culpe! Olhe para o movimento feminista atual, aceite a parcela de culpa que cabe a ele - pelo “marketing” inadequado que tem feito - e tente passar uma imagem melhor: sem radicalismo, sem ódio aos homens, sem jargão, sem desonestidade intelectual, sem ingenuidade, sem exagero.
2 - Não adianta pregar aos já convertidos. Os textos feministas deveriam ser dirigidos principalmente às pessoas não-feministas. Em outras palavras, os artigos feministas (exceto os propriamente acadêmicos) deveriam ser entendidos por qualquer pessoa com mais de 12 anos, independente de qualquer conhecimento prévio sobre feminismo.
3 - Evitar usar palavras como reacionário, reaça, coxinha, patriarcado, cultura do estupro, todxs, tod@s, empoderamento. Isso só serve para fazer média com um grupo de leitores que já pensa exatamente como você, e espantar todos aqueles que poderiam aprender algo novo com seu texto.
4 - Feminismo não tem relação lógica com a esquerda política. Ocorre apenas que, por diversos motivos, a maioria das feministas simpatiza com a esquerda. Só que a identificação automática feminismo-esquerdismo é prejudicial para a difusão do feminismo (já que muita gente tem aversão automática a tudo que é de esquerda) e deve ser evitada. O feminismo é apenas uma luta por igualdade, é uma causa perfeitamente racional e deve tentar conquistar adeptos em todas as vertentes políticas.
5 - Evite generalizações e exageros. Ninguém (exceto quem já compartilha sua visão) vai levar a sério se você ficar falando em “opressão das mulheres” ou “cultura do estupro” em pleno Brasil de hoje. Guarde essas expressões para quando estiver falando de situações muito mais graves em outros continentes.
6 - Tenha muito cuidado ao falar sobre pesquisas e estatísticas. Antes de se sentir horrorizada com algum dado, procure entender o contexto. Por exemplo, se você leu que “4.000 mulheres foram assassinadas no ano passado”, é preciso comparar com o número total de assassinatos naquele período. O alto número de mortes de mulheres pode ser apenas reflexo da violência em geral. É grave, mas não é uma questão de gênero.
7 - Tenha honestidade intelectual sempre. Não fale de opiniões como se fossem fatos, nem ignore os fatos só porque eles vão contra a sua ideologia. Você não tem dados para concluir que “o modo como a mulher se veste não influencia a chance de estupro”, então não invente. A propósito, eu também não tenho dados para saber se a roupa influencia ou não, apenas acho que influencia (e tenho argumentos para defender essa opinião).
8 - Pare de ver inimigos por toda parte, procure interpretar com benevolência e mente aberta o que o outro lado fala. Entenda que ninguém está “culpando a vítima” só porque perguntou como ela estava vestida. Não conclua automaticamente que seu interlocutor é louco ou imoral. Evite rotular os seus adversários, ignore ataques pessoais e só responda argumentos com argumentos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A primeira feminista - a história de Marie Gouze




(Por Cassiano Tirapani)


Marie Gouze foi a primeira mulher que pode ser chamada propriamente de feminista na história. Era uma escritora e intelectual francesa, adepta das ideias iluministas, que adotou o pseudônimo Olympe de Gouges. Você nunca ouviu falar dela, né? Também pudera, é uma história inconveniente. 

A esquerda detêm a narrativa da história, e dessa forma ela escolhe o que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido. Marie Gouze, para a esquerda, deve ser esquecida. O que é curioso, porque ela seria a figura perfeita, já que ela escreveu antes de John Stuart Mill, antes de Jeremy Benthan, os primeiros filósofos a defender o direito das mulheres - que "infelizmente" eram homens. Era preciso uma mulher para ser posta no início dessa narrativa, mas não Marie, ela não. Por que? Porque Marie perdeu a cabeça na guilhotina da Revolução, durante o período do Terror jacobino. 

Isso mesmo que você leu, A PRIMEIRA FEMINISTA DA HISTÓRIA FOI MORTA PELA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA. Marie não era contra a liberdade, pelo contrário, o erro de Marie Gouze era ser contra a ditadura dos iluminados, e denunciar a hipocrisia e o autoritarismo jacobino. Quando os deputados da Assembleia Nacional escreveram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, Marie escreveu, de forma iconoclasta, a Declaração dos Direitos da Mulher e Cidadã. Madamme de Gouges escrevia panfletos políticos e peças de teatro, e defendeu em sua obra ideias pioneiras como o direito político das mulheres e dos negros, muito antes que os homens de letras se detivessem sobre estes assuntos. Mas Marie sabia que o povo também podia exercer sua tirania própria no lugar do rei, ela portanto era uma moderada, uma girondina. 

Quando os jacobinos estabeleceram seu Tribunal Revolucionário e passaram a executar civis a toque de caixa, Marie passou a escrever contra estes homens que diziam-se defensores da liberdade, e isso os enfureceu. Criticou pessoalmente Marat e Robespierre, e acabou sendo presa. Foi julgada sem advogado, e condenada à morte. Quando subia até a guilhotina declarou "Se uma mulher ter o direito de subir ao cadafalso, tem o direito de usar a Tribuna". Depois disso, foi executada. Outra famosa girondina foi Charlotte Corday, a mulher que matou Marat em sua banheira. Este Marat, tido como um santo, era no fundo um louco que tinha o poder de vida e morte sobre todos aqueles que ele declarava "inimigos do povo", tal como Robespierre e Saint-Just. Depois de sua morte, Marat foi cultuado como mártir e santo, e Charlotte guilhotinada. 

Tanto Marie quanto Charlotte notaram que os virtuosíssimos revolucionários estavam criando um Estado autoritário, guiado por pura histeria. Mas Marie estava do lado errado da história, ela era, para os loucos jacobinos, uma inimiga do povo, uma reacionária, uma anti-revolucionária. Por isso ela não será lembrada como a primeira feminista, a primeira mulher a declarar seus direitos políticos. Mas Marie foi a verdadeira matriarca do feminismo.



Sobre o autor: Cassiano Tirapani é professor de história do Estado de São Paulo. 
Facebook: https://www.facebook.com/cacotirapani

sábado, 7 de novembro de 2015

Opinião de idiota conta?

Caso Maju Coutinho. Um dos autores das ofensas racistas era um babaquinha de 15 anos

Nossa primeira reação diante de uma opinião absurda na internet costuma ser a revolta. Quanto machismo/homofobia/racismo nas redes sociais! Essa reação é totalmente compreensível, mas é importante mantermos o senso crítico ligado e nos fazermos algumas perguntas. Qual a chance de essa postagem ser apenas zoeira/trollagem? Mesmo se a opinião for sincera, será que isso é uma amostra representativa da  nossa sociedade? Há motivos para preocupação?

O fato é que dá pra encontrar tudo quanto é opinião absurda na internet. Será que uma opinião extrema sustentada por 10% da população é um problema? E se for apenas 1%?

Estamos com medo de que, exatamente? Agora qualquer opinião tem o potencial de se espalhar pela sociedade? Se um grupinho começar a comer bosta, todo mundo vai querer copiar? Não, quase todo mundo vai rir do grupinho comendo bosta. Com opinião escrota é a mesma coisa. Essas opiniões não estão se espalhando (aposto que estão diminuindo a cada geração), acontece que, com a internet, elas ganham mais visibilidade, dando a impressão de que estão mais frequentes.

Quanto ao fato de “tanta gente” curtir postagens preconceituosas, vale o mesmo raciocínio: são só uma minoria de idiotas num universo muito grande de internautas. Faça o teste: na próxima vez que você se deparar com um comentário preconceituoso numa página mainstream, compare o número de curtidas nesse comentário com as curtidas nas respostas críticas ao comentário.

O justiceiro social típico adora pegar os piores exemplos disponíveis para parecer uma pessoa boa/especial por comparação. Deve dar uma sensação gostosa de superioridade moral, né? Que patético! Amiguinho revolucionário, preste atenção: você NÃO é nem um pouco especial por não ser racista, misógino ou homofóbico; isso é o normal, é o que se espera de uma pessoa racional. Pare de alardear aos quatro ventos que você não é imbecil (isso só levanta mais suspeitas).

Talvez possamos reduzir a quantidade de preconceito em circulação, mas nunca conseguiremos eliminá-lo da mente de todas as pessoas. O estoque de idiotas na sociedade vai se renovando, então sempre vai ter gente “descobrindo” e pregando as vantagens de comer bosta. E certamente não vai adiantar nada escrever textões dizendo como é idiota comer bosta, porque 99% da população já sabe disso, e o 1% restante é imune a argumentação racional.

Minha dica é: acalme-se e pare de se indignar com besteira. Quando você presenciar alguém que você conhece expressando uma opinião absurda, sem estar brincando, essa é a hora de se indignar e contestar. Atue no seu círculo de parentes e amigos, é aí que suas críticas têm mais chance de fazer efeito. Mas, quando você topar com babaquice de desconhecidos na internet (ou no banheiro público), é a hora de ignorar. Acima de tudo: não ajude a divulgar a babaquice*, pois esse é o objetivo de muitos desses trolls. Como o imbecil da pichação abaixo deve ter ficado feliz ao ver sua merda amplificada milhares de vezes na internet!

Merda no banheiro, nada de novo sob o sol. 

Infelizmente, os movimentos sociais engolem toda e qualquer provocação, e sua principal atividade atualmente parece ser colecionar e expor os casos mais bizarros. Eles precisam acreditar que aquilo é real, que a opressão e o preconceito são enormes e disseminados. Mas a verdade é que essas ocorrências são o que se chama “evidência anedótica”. Elas não servem para sabermos o quanto aquela opinião é frequente ou rara na sociedade.

Para saber a real extensão de uma opinião na sociedade, só com pesquisas muito bem feitas, com amostras grandes. Mas pra quê se dar o trabalho de fazer uma pesquisa dessas, se os exemplos extremos estão sempre à mão na internet?

Não estou dizendo que não existe machismo/racismo/homofobia genuínos no Brasil, estou dizendo que não dá pra saber o quão disseminados eles são só com evidências anedóticas. Fica aqui o meu apelo por mais pesquisas de opinião bem feitas e menos indignação desnecessária.




*P.S: Elaborando um pouco mais sobre não divulgar a babaquice, vou usar o racismo como exemplo. Premissas: pessoas racistas são babacas, e babacas são mais influenciáveis que a média. Se um babaca que já tem propensão ao racismo se depara todo dia com exemplos de outros babacas que expressam abertamente seu racismo (mesmo que sejam só postagens criticando casos de racismo!), este babaca vai se sentir mais motivado a também expor seu racismo. Assim, por simples imitação, as expressões de racismo podem de fato aumentar na internet, em pichações, etc. A mídia e os movimentos sociais acabam, sem querer, contribuindo para agravar o problema, ao dar repercussão e uma aura de seriedade ao que, na maioria das vezes, não passa de trollagem vulgar.