terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Putas x mulheres direitas - por um pouco de sanidade no debate

Ultimamente, tenho visto muitos posts feministas reclamando dos rótulos que os homens colocam nas mulheres, variações da dicotomia “pra casar” x “pra comer” ou "putas" x "mulheres decentes". Aqui vão alguns exemplos:





Reparem que o primeiro meme é legal e tenta apenas defender as mulheres, mas os dois últimos acharam melhor agredir os homens, por via das dúvidas. Uzomi não estão apenas errados.. eles estão errados e por isso são imbecis! E a discussão também acaba ficando nesse nível de meme, como se fosse absolutamente óbvio pra todo mundo que esses rótulos são absurdos, arbitrários e que os homens que pensam assim são retardados. Pronto, fim de papo, próxima causa feminista! Ninguém se dá ao trabalho de ver o lado dos homens, tentar imaginar os prováveis motivos de existir tal rotulagem em primeiro lugar. (Nota: é aqui que muitas feministas pensam na palavra “iuzomismo” e param de ler. Se você prefere pensar racionalmente ao invés de ser vítima da reação pavloviana de estímulo-resposta, continue lendo)

Será que os rótulos de mulher “pra pegar” e “pra casar” são fruto de uma conspiração machista para tentar controlar as mulheres? Bom, eu até acho que isso explica parte do fenômeno, num nível histórico e sociológico. Mas no dia-a-dia, na mente do homem individual, esses rótulos são usados principalmente porque são úteis e refletem algo do mundo real. Rótulos são simplificações grosseiras, mas quase sempre têm um fundo de verdade e de sabedoria ancestral.

Em primeiro lugar, todo mundo julga e categoriza os outros, conscientemente ou não. É normal dividir as pessoas em legais ou chatas, sinceras ou falsas, humildes ou arrogantes e assim por diante. Afinal, por que você prefere sair com alguns amigos e não com outros? É bem provável que você até divida seus amigos em “nichos” específicos: o Bruninho é muito divertido numa mesa de bar, mas não serve pra falar sério; a Angélica é ótima para conversar sério e guardar segredos, mas é muito tímida e não serve pra te acompanhar em baladas. Quando você percebe isso, passa a “usar” cada amigo no que tem de melhor e evitá-lo no que ele é ruim (de acordo com seus critérios), o que só ajuda a manter as amizades. As categorias de puta/decente podem ser um pouco mais toscas, mas a lógica é parecida.

Segundo ponto: as pessoas esperam coerência no comportamento alheio. Por exemplo, se você conhece um parceiro em potencial em circunstâncias de "pegação" e promiscuidade, a tendência é achar que aquele é o comportamento normal da pessoa (mesmo que ela estivesse visivelmente “alterada pela bebida”, você vai supor que é normal que ela beba e se altere!). Então, é normal deduzir que, se a mulher deu pro cara no primeiro encontro, ela é uma mulher “fácil”. E qual o problema em ser fácil? Nenhum, se o objetivo for justamente aquela pegação de curto prazo. Mas e se essa “facilidade” sexual se estender para o namoro sério? Aí seria um problema, para a maioria das pessoas. Todo mundo está sujeito a sentir desejo sexual por terceiros; o que torna uma pessoa infiel é a incapacidade de resistir a esses desejos. Ora, se a mulher já deu sinais de ser “fácil”, as chances de ela ceder a tentações certamente parecerão maiores (talvez nem sejam, mas o normal é achar que são).

Terceiro ponto: todo mundo tem direito a seus próprios padrões, por mais ridículos que sejam, e você não tem nada com isso. Se o sujeito só quiser namorar e casar com uma mulher virgem, por mais promíscuo que ele próprio seja... dane-se! É um direito dele procurar mulheres com qualquer característica que ele goste, assim como você tem o direito de só querer homens que pareçam com o George Clooney. E mesmo que 90% dos caras tenha preferências que você considera toscas e inviáveis, não há muito o que você possa fazer para mudar a mente deles. Pare e pense: será que alguém é babaca só por ter padrões diferentes dos seus?

Minha intenção com esses três pontos não é, de maneira nenhuma, fazer você concordar com os rótulos machistas. O rótulo de “puta” é escroto e frequentemente injusto, ainda mais quando baseado em pouquíssimas informações (como o comprimento da roupa). Acontece que não adianta combater um absurdo com mais absurdos, do tipo “não existe mulher puta” ou “valorize igualmente putas e puritanas”... isso é ingenuidade, não funciona. Na minha opinião, seria melhor postar algo como “o comprimento da saia não define caráter”. Isso é verdadeiro, não soa arrogante, e não parte de premissas estúpidas sobre o mundo real ou sobre os leitores; não está dizendo que não existem mulheres de caráter duvidoso, ou que o homem deveria gostar de parceiras promíscuas, nem que o homem deveria gostar de mulheres com roupas curtas.

Não sei se vocês concordam, mas eu acho esses memes melhores que os lá de cima:





Vamos colocar a coisa em pratos limpos: não há nada inerentemente errado em ser puta, em se vestir como puta, em dar no primeiro encontro... o corpo é seu e você faz o que quiser, NINGUÉM está questionando isso! Olhe em volta: você está no Brasil, não no Afeganistão; se você for solteira e se sustentar sozinha,  ninguém estará em posição de regular o seu comportamento sexual. As pessoas podem até falar mal, mas e daí? Sempre vai ter alguém pra falar merda, sobre qualquer assunto, mas ninguém deveria pautar sua vida pelo que os outros pensam ou dizem. Por outro lado, numa sociedade que se pretende livre, ninguém pode impedir os outros de terem seus próprios critérios e de falarem o que pensam (desde que arquem com as consequências legais, se for o caso). Em outras palavras, tire os seus padrões do julgamento alheio.

Então vale tudo em nome da liberdade individual? Tudo é moralmente neutro e aceitável? Claro que não. O que é errado? Espalhar boatos sobre a vida sexual alheia. Falar sobre a intimidade de parceiros(as) ou ex-parceiros(as). Divulgar fotos e vídeos íntimos sem autorização de todos os envolvidos. Filmar a bunda de desconhecidas sem que elas percebam. Soltar cantadas obscenas para quem não te deu a mínima abertura. Tudo isso é fundamentalmente imoral, não importa que porcentagem da população pratique ou aceite essas condutas. Mas o que há de errado em julgar os outros – um simples e praticamente inevitável processo mental - com base nas informações que você tem e nos seus critérios morais? O julgamento pode se revelar injusto, mas, se você guardá-lo para si, dificilmente prejudicará alguém.

O que eu sugiro então, no lugar de postagens raivosas contra rótulos machistas? Que tal apoiar e organizar campanhas pela legalização da prostituição? É uma causa concreta, que aumentaria a liberdade das pessoas (homens e mulheres), não uma tentativa utópica de dizer como os homens deveriam pensam sobre as mulheres. Além de ser a decisão racional e justa com milhares de adultos que já vendem voluntariamente serviços sexuais, legalizar a prostituição poderia ajudar a reduzir o estigma associado a agir “como puta”, se vestir “como puta” e assim por diante. Vou ficando por aqui, mas voltarei ao assunto prostituição em um post futuro.