sábado, 7 de novembro de 2015

Opinião de idiota conta?

Caso Maju Coutinho. Um dos autores das ofensas racistas era um babaquinha de 15 anos

Nossa primeira reação diante de uma opinião absurda na internet costuma ser a revolta. Quanto machismo/homofobia/racismo nas redes sociais! Essa reação é totalmente compreensível, mas é importante mantermos o senso crítico ligado e nos fazermos algumas perguntas. Qual a chance de essa postagem ser apenas zoeira/trollagem? Mesmo se a opinião for sincera, será que isso é uma amostra representativa da  nossa sociedade? Há motivos para preocupação?

O fato é que dá pra encontrar tudo quanto é opinião absurda na internet. Será que uma opinião extrema sustentada por 10% da população é um problema? E se for apenas 1%?

Estamos com medo de que, exatamente? Agora qualquer opinião tem o potencial de se espalhar pela sociedade? Se um grupinho começar a comer bosta, todo mundo vai querer copiar? Não, quase todo mundo vai rir do grupinho comendo bosta. Com opinião escrota é a mesma coisa. Essas opiniões não estão se espalhando (aposto que estão diminuindo a cada geração), acontece que, com a internet, elas ganham mais visibilidade, dando a impressão de que estão mais frequentes.

Quanto ao fato de “tanta gente” curtir postagens preconceituosas, vale o mesmo raciocínio: são só uma minoria de idiotas num universo muito grande de internautas. Faça o teste: na próxima vez que você se deparar com um comentário preconceituoso numa página mainstream, compare o número de curtidas nesse comentário com as curtidas nas respostas críticas ao comentário.

O justiceiro social típico adora pegar os piores exemplos disponíveis para parecer uma pessoa boa/especial por comparação. Deve dar uma sensação gostosa de superioridade moral, né? Que patético! Amiguinho revolucionário, preste atenção: você NÃO é nem um pouco especial por não ser racista, misógino ou homofóbico; isso é o normal, é o que se espera de uma pessoa racional. Pare de alardear aos quatro ventos que você não é imbecil (isso só levanta mais suspeitas).

Talvez possamos reduzir a quantidade de preconceito em circulação, mas nunca conseguiremos eliminá-lo da mente de todas as pessoas. O estoque de idiotas na sociedade vai se renovando, então sempre vai ter gente “descobrindo” e pregando as vantagens de comer bosta. E certamente não vai adiantar nada escrever textões dizendo como é idiota comer bosta, porque 99% da população já sabe disso, e o 1% restante é imune a argumentação racional.

Minha dica é: acalme-se e pare de se indignar com besteira. Quando você presenciar alguém que você conhece expressando uma opinião absurda, sem estar brincando, essa é a hora de se indignar e contestar. Atue no seu círculo de parentes e amigos, é aí que suas críticas têm mais chance de fazer efeito. Mas, quando você topar com babaquice de desconhecidos na internet (ou no banheiro público), é a hora de ignorar. Acima de tudo: não ajude a divulgar a babaquice*, pois esse é o objetivo de muitos desses trolls. Como o imbecil da pichação abaixo deve ter ficado feliz ao ver sua merda amplificada milhares de vezes na internet!

Merda no banheiro, nada de novo sob o sol. 

Infelizmente, os movimentos sociais engolem toda e qualquer provocação, e sua principal atividade atualmente parece ser colecionar e expor os casos mais bizarros. Eles precisam acreditar que aquilo é real, que a opressão e o preconceito são enormes e disseminados. Mas a verdade é que essas ocorrências são o que se chama “evidência anedótica”. Elas não servem para sabermos o quanto aquela opinião é frequente ou rara na sociedade.

Para saber a real extensão de uma opinião na sociedade, só com pesquisas muito bem feitas, com amostras grandes. Mas pra quê se dar o trabalho de fazer uma pesquisa dessas, se os exemplos extremos estão sempre à mão na internet?

Não estou dizendo que não existe machismo/racismo/homofobia genuínos no Brasil, estou dizendo que não dá pra saber o quão disseminados eles são só com evidências anedóticas. Fica aqui o meu apelo por mais pesquisas de opinião bem feitas e menos indignação desnecessária.




*P.S: Elaborando um pouco mais sobre não divulgar a babaquice, vou usar o racismo como exemplo. Premissas: pessoas racistas são babacas, e babacas são mais influenciáveis que a média. Se um babaca que já tem propensão ao racismo se depara todo dia com exemplos de outros babacas que expressam abertamente seu racismo (mesmo que sejam só postagens criticando casos de racismo!), este babaca vai se sentir mais motivado a também expor seu racismo. Assim, por simples imitação, as expressões de racismo podem de fato aumentar na internet, em pichações, etc. A mídia e os movimentos sociais acabam, sem querer, contribuindo para agravar o problema, ao dar repercussão e uma aura de seriedade ao que, na maioria das vezes, não passa de trollagem vulgar.